quinta-feira, 20 de outubro de 2011
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Suspiro
Mas, como em todo romance, as coisas mudaram. A realidade esmagou muitas de nossas ficções. Hoje ela não é a mesma. Nem eu. Não passamos mais a tarde mergulhados em nossa própria Terabítia. Mas é inevitável reconhecer que ela sempre será minha ponte.
o pan olimpicamente ignorado
Pior que não ter comprado os direitos de transmissão é ter perdido a exclusividade para o grupo de comunicação que mais vem “incomodando” com índices crescentes de audiência. Por isso, pelos lados da Record, o Pan 2011 é só festa e exaltação. São reportagens nos telejornais, chamadas a todo o momento, um batalhão de profissionais mobilizados e espaços generosos na programação da emissora. No R7, o site do grupo, há uma seção dedicada à cobertura da competição, fartamente ilustrada e constantemente abastecida. No G1 e no seu braço mais esportivo – SportTV – é gelo puro; idem no eBand, da concorrente que tem no esporte um dos carros-chefes de sua programação.
Alguém aí pode achar natural que não se coloque azeitona na empada alheia, já que estamos tratando de competidores em audiência e de rivalidade de mercado. Mas informação é um bem diferente de azeitonas em conserva ou empadas. Informação é uma mercadoria de alto valor agregado, que não se degrada com a sua difusão ou compartilhamento e que, muitas vezes, auxilia o seu portador a tomar decisões, escolher caminhos, reorientar-se no mundo. Isto é, informação é um bem de finalidade pública, embora seja cada vez mais frequente que empresas controladas por grupos privados a produzam e a façam circular. Independente disso, o produto carece de cuidados e atenções distintas.
Então, cobrir o Pan de Guadalajara é mais do que rechear a empada alheia. É garantir que o público tenha acesso a informações que julga relevantes e interessantes. Afinal, convenhamos, não se pode ignorar os Jogos Pan-Americanos. É uma competição tradicional – existe desde 1951 -, é importante – pois funciona como uma prévia regionalizada dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 -, e é abrangente por ser continental e reunir 29 modalidades esportivas. Esses argumentos bastariam para colocar o evento na pauta de qualquer veículo de comunicação que se preze.
No caso das Organizações Globo, ignorar a efeméride é simplesmente deixar de lado seus recém-anunciados Princípios Editoriais. No documento, os veículos do grupo se comprometem a produzir um jornalismo calcado no que consideram ser os atributos da informação de qualidade: isenção, correção e agilidade. No item que trata de isenção, os princípios são bastante claros, e cito alguns trechos que colidem com o atual comportamento do grupo:
… “(d) Não pode haver assuntos tabus. Tudo aquilo que for de interesse público, tudo aquilo que for notícia, deve ser publicado, analisado, discutido”…
“(n) As Organizações Globo são entusiastas do Brasil, de sua diversidade, de sua cultura e de seu povo, tema principal de seus veículos”…
“p) É inadmissível que jornalistas das Organizações Globo façam reportagens em benefício próprio ou que deixem de fazer aquelas que prejudiquem seus interesses”
Este é um caso típico de descolamento entre o dito e o feito. Claro que as Organizações Globo podem estar preparando coberturas especiais sobre o evento ou correndo para apresentar um material diferenciado às suas audiências. Tomara. Mas se for assim, os veículos do conglomerado estarão atrasados, contrariando outra lei de ouro de seus Princípios Editoriais, a agilidade.
Texto de Rogério Christofoletti
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Políticos criam frente pró-diploma na Câmara
*Notícia do jornal Folha de São Paulo de 06/10/11.
Oremos!
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Vamos censurar o humor
Faz quase duas semanas que o jornalista e humorista Rafinha Bastos é notícia por suas declarações. Consideradas um tanto quanto polêmicas, as falas de Rafael no programa CQC (Custe o Que Custar), da Band, têm provocado revolta em algumas pessoas, além de um forte pedido de tomada de providências. Pois bem, a fama do jornalista em questão se dá, essencialmente, pelo humor. Claro que inúmeros indignados e/ou intolerantes indagarão: mas até que ponto isso pode ser considerado humor? Entenda-se o gênero em sua total abrangência: despachado, “pastelão”, negro – ou seja, de bom ou de mau gosto, não deixa de ser humor.
“Mulheres feias deveriam agradecer caso fossem estupradas, afinal os estupradores estavam lhes fazendo um favor, uma caridade” – essa é uma das afirmações (dada à revista Rolling Stone) que gerou o desagrado de parte do público leitor. Lembremos que o nome do espetáculo no estilo stand up comedy, escrito e protagonizado por Rafinha Bastos, é: A arte do insulto. Esse veículo de comunicação toma posição a favor do jornalista. O que o rapaz faz, nada mais é que uma sinceridade inconveniente. Não estamos concordando com a citação acima, mas sim com o direito de citá-la. É ofensivo? Pejorativo? Degradante? No ponto de vista da maioria – que se manifesta – sim. Contudo, existe um grande percentual que vê graça. Rafinha Bastos é um personagem de humor dentro de um programa de entretenimento (que mescla piadas, sarcasmo, comentários “politicamente incorretos” com jornalismo). Assim sendo, o jornalista não pode ser censurado. A bandeira levantada no programa é seu nome, ou deveria ser.
Na última exibição do CQC, Rafinha Bastos esteve afastado; em seu lugar ficou a repórter Monica Iozzi. Algo que pouco foi comentado é a declaração da jornalista substituta: “anos 90 era legal, Mussum bêbado e Bozo cheirado”, afirmou Monica. Por que essa fala não foi tão repudiada? Por se tratarem de pessoas mortas? A questão central é a tentativa de censura apontada a Rafinha Bastos. Programa jornalístico de Rafinha chama-se “A liga”, programa onde ele tem espaço para o humor (qualquer forma) é o CQC. Pela livre expressão de humor, custe o que custar! Afinal de contas, humor negro é igual a braço... uns têm, outros não.