quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Big Brother Chile

Dentre os trinta e três mineiros soterrados na mina San José, no Chile, cinco apresentam um quadro depressivo. Os trabalhadores já estão no local há vinte e nove dias. Toda comunicação com o mundo exterior é feita através de "palomas", apelido dado aos cilindros também usados para transportar alimentos pelos estreitos túneis. Até esse ponto, tudo bem. O problema é que os mineiros não têm a mínima noção de quanto tempo permanecerão onde estão. Por enquanto ainda vivem a euforia de estarem vivos, sãos e salvos. Mas até quando conseguirão permanecer sãos? O que estamos presenciando nada mais é que um REALITY SHOW, só que, com o perdão da redundância, da vida real. Por enquanto apenas cinco pessoas demonstraram sintomas da doença, mas e daqui a dez dias? E daqui a dois meses? Pois a previsão para a retirada dos acidentados é de aproximadamente quatro meses. É um tempo muito longo de convivências indesejadas, alimentando-se e exercitando-se de maneira muito artificial. Tudo isso, sem sequer ver a luz solar. Contudo, são fatos irreversíveis. Não se tem muita escolha nessa situação. O que me impressiona é o baixo foco que a própria mídia vem dando a esse assunto. Parece que não passou de mais uma notícia que saiu no jornal e hoje serve apenas para enrolar peixe na feira, como costumamos dizer. Estou chamando atenção justamente para o lado humano da história. Somos capazes de acompanhar, por meses, alguns REALITY SHOWS, mais que isso, vibrar com os participantes, irritar-se com eles, discutirmos em nosso dia a dia sobre quem merece o prêmio. Mas de um grupo de trabalhadores chilenos que passa por necessidades reais, com dificuldades de sobreviver, é fácil esquecermos. Espero que todos os presentes na mina San José saiam vitoriosos dessa batalha, e que atentemos mais ao caso. Que não seja necessário que a depressão tome conta dos trinta e três e cheguem à extremos para permanecer lúcidos. Todavia, é óbvio que quando esse ‘show’ acabar, ninguém receberá um milhão de reais, no máximo um abraço dos familiares. E na semana seguinte, terão de voltar ao trabalho, como se nada tivesse acontecido.

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