sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
CONVICÇÃO
Quando um jogador erra um pênalti raramente aceitará bater um próximo durante o jogo.
A clara vantagem moral do goleiro apaga a tranquilidade do batedor. O torcedor também não ajuda, e passa a vaiar qualquer ameaça à sua alegria, proveniente de um ídolo ou não.
Sou fascinado pelo exemplo do atacante argentino Martín Palermo, o El Loco. O maior goleador da história do Boca Juniors protagonizou na seleção de seu país a proeza de desperdiçar três penalidades numa única partida. O feito memorável ocorreu contra a Colômbia, em julho de 1999, pela Copa América.
Não me espanto pelas três chances decisivas e letais de gol postas fora, que asseguraria o empate da Argentina, mas sua teimosia inabalável de permanecer tomando a bola para si na marca branca da pequena área.
- Deixa comigo, agora vai!
Sua insistência é heroica, mítica. Palermo é primo de terceiro grau de Electra, dublê de Sísifo, cover dos corvos de Prometeu. Ele não se preocupou em proteger sua trajetória vitoriosa, em conservar sua reputação imaculada, abriu a guarda à crítica, largou a zona confortável da normalidade, permitiu-se extrapolar a cota de vexames que cada um suporta por dia. Enfrentou o próprio azar, para que se tornasse maldição ou redenção.
Muitos dirão que ele perdeu a cabeça, não teve bom senso, vejo o contrário: ele assumiu que era uma noite ruim e foi até o fim, não culpou o vento, a chuteira, o gramado, o juiz, não usou atenuante, não transferiu o peso da falha a possíveis movimentos irregulares do goleiro, não procurou se isentar da responsabilidade de decidir, não se apequenou perante o primeiro tombo, confiou em seu talento e insistiu. Assim que admitiu bater a segunda cobrança, estava fadado a seguir com a terceira, a quarta, a quinta, a sexta, quantas surgissem. Não desistiria nunca. Ele levou para o lado pessoal, como deveríamos fazer sempre, ruim é quando levamos para o lado público e desistimos.
Ele chutaria de tudo o que é jeito, e talvez errasse consecutivamente, pela vida inteira.
Quem teria a mesma intrepidez? Quem bateria numa porta para ser negado sucessivas vezes? Nem o mendigo sobrevive à reincidência. No plano amoroso, só nos declaramos quando temos absoluta certeza da reciprocidade, e olhe lá! Poucos se arriscam sem absoluta confiança de uma resposta positiva. Dizer o "eu te amo" vem engasgado, confuso, rasteiro - o outro pede para repetir de propósito. Na ausência de certeza, recuamos, fingimos que nada aconteceu, escondemos os próprios sentimentos. Existe um medo de se confessar, justamente para não ser zombado, para não ser chamado de burro.
Covardia é fugir do fracasso, coragem é aceitar o fracasso. Palermo não foi palerma.
*Texto de Fabrício Carpinejar, retirado daqui: http://carpinejar.blogspot.com/
A clara vantagem moral do goleiro apaga a tranquilidade do batedor. O torcedor também não ajuda, e passa a vaiar qualquer ameaça à sua alegria, proveniente de um ídolo ou não.
Sou fascinado pelo exemplo do atacante argentino Martín Palermo, o El Loco. O maior goleador da história do Boca Juniors protagonizou na seleção de seu país a proeza de desperdiçar três penalidades numa única partida. O feito memorável ocorreu contra a Colômbia, em julho de 1999, pela Copa América.
Não me espanto pelas três chances decisivas e letais de gol postas fora, que asseguraria o empate da Argentina, mas sua teimosia inabalável de permanecer tomando a bola para si na marca branca da pequena área.
- Deixa comigo, agora vai!
Sua insistência é heroica, mítica. Palermo é primo de terceiro grau de Electra, dublê de Sísifo, cover dos corvos de Prometeu. Ele não se preocupou em proteger sua trajetória vitoriosa, em conservar sua reputação imaculada, abriu a guarda à crítica, largou a zona confortável da normalidade, permitiu-se extrapolar a cota de vexames que cada um suporta por dia. Enfrentou o próprio azar, para que se tornasse maldição ou redenção.
Muitos dirão que ele perdeu a cabeça, não teve bom senso, vejo o contrário: ele assumiu que era uma noite ruim e foi até o fim, não culpou o vento, a chuteira, o gramado, o juiz, não usou atenuante, não transferiu o peso da falha a possíveis movimentos irregulares do goleiro, não procurou se isentar da responsabilidade de decidir, não se apequenou perante o primeiro tombo, confiou em seu talento e insistiu. Assim que admitiu bater a segunda cobrança, estava fadado a seguir com a terceira, a quarta, a quinta, a sexta, quantas surgissem. Não desistiria nunca. Ele levou para o lado pessoal, como deveríamos fazer sempre, ruim é quando levamos para o lado público e desistimos.
Ele chutaria de tudo o que é jeito, e talvez errasse consecutivamente, pela vida inteira.
Quem teria a mesma intrepidez? Quem bateria numa porta para ser negado sucessivas vezes? Nem o mendigo sobrevive à reincidência. No plano amoroso, só nos declaramos quando temos absoluta certeza da reciprocidade, e olhe lá! Poucos se arriscam sem absoluta confiança de uma resposta positiva. Dizer o "eu te amo" vem engasgado, confuso, rasteiro - o outro pede para repetir de propósito. Na ausência de certeza, recuamos, fingimos que nada aconteceu, escondemos os próprios sentimentos. Existe um medo de se confessar, justamente para não ser zombado, para não ser chamado de burro.
Covardia é fugir do fracasso, coragem é aceitar o fracasso. Palermo não foi palerma.
*Texto de Fabrício Carpinejar, retirado daqui: http://carpinejar.blogspot.com/
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
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