Hoje é um daqueles dias em que fico tentando achar a respiração ideal que me dará a inspiração perfeita para escrever. Li e rê-li algumas coisas boas. Ouvi muita música excelente. E eis que a inspiração se apresenta das observações. Estou me desafiando nesses posts mais recentes a escrever em primeira pessoa. Certa vez um amigo, na ocasião de um jogo que envolve álcool e perguntas capciosas - Eu nunca - bradou: "Pessoas que dizem a verdade no Eu nunca são umas fracas". Naquele momento espontaneamente pensei: "Putz!". Porque sou muito fraco. Não por efeito etílico, mas sempre falo a verdade quando essa é a regra do jogo - o que leva a momentos desconcertantemente embaraçosos. Pois bem, prefiro minhas autorias em terceira pessoa porque assim não importa de quem estou falando. É ficção! Claro que posso escorregar particularidades, mas a essência da estória não está voltada a mim. Já quando começo o texto com 'eu' é como no jogo. Maldição, sou fraco.
Mas o que quero abordar mesmo é a boa leitura, a excelente música, a inspiração, a beleza da solidão e uma asiática. Estou lendo Cem anos de solidão. Não preciso dizer quão bom é um livro que ganhou o prêmio Nobel de literatura. Ando ouvindo quase que incessantemente a banda Móveis Coloniais de Acaju. Perfeita! A inspiração ultimamente vem mais da esquerda do que de qualquer outro lugar. Sim, essa última frase só faz sentindo para mim (chata essa subjetividade sincera da primeira pessoa, neh?!). E a solidão! Ah, o só. Fui ao show dessa banda que recém citei (recomendo). Fui sozinho. Peguei um ônibus, caminhei algumas quadras da Cidade Baixa e cheguei ao meu objetivo. Fiquei horas pensando em como ando fazendo coisas solito. As vezes isso era uma divagação melancólica, mas a conclusão é feliz. Muito feliz. Nunca havia sentado na Praça da Alfândega, sorvendo um sorvete enquanto lia. Nunca havia caminhado meio sem rumo por "pontos turísticos" do centro de POA com a liberdade de entrar em um Cebo só para ver se algo me agradava - foi onde descobri quão genial é a escrita do Woody Allen. E o show. Foi quase inexplicável. O Móveis é a banda mais animada que já vi. Já fui num show da Ivete Sangalo (viu, não resisto ao embaraço) e não foi tão animado quanto esses nove caras de Brasília. E por que foi tão bom? Porque eu estava sozinho. Não costumo dançar. É constrangedor para mim e deveras engraçado aos que assistem. Ao som do Móveis dancei feito criança (não como um abobado que não liga para o julgamento alheio, mas como um despreocupado). Despretenciosamente me diverti. Sem contar a asiática ao meu lado. Certamente a mais linda que já vi. Não repararia nela caso estivesse acompanhado. Ah! Que asiática. Não sou do tipo de homem com feitiches por esse fenótipo, mas essa asiática era radiante.
A palavra solidão carrega consigo algo negativo. Balela! Me inspiro de ultimamente estar só, feliz!
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Rosa
Camila não é uma dessas meninas comuns, que gostam de coisas comuns, lugares comuns e etceteras comuns. Prefere a extravagância. Prefere chegar ao limite que ter de conter-se. Se não for para ser intenso, então melhor nem ser. Sempre foi assim, desde o jardim de infância. Quando convidada a ser oradora da turma em sua formatura de pré-escola declarou:
- Nascemos para bilhar! Já ficamos muitos anos parados sem descobrir o mundo que nos espera, os amores e desamores, e, principalmente, sem nos descobrirmos!
Causou perplexidade nos pais presentes e total falta de entendimento de seus colegas que, tal como Camila, beiravam os 6 anos. Uma professora comentava:
- O que o futuro não reserva para essa intempestiva menina?!
Os pais corrigiam:
- O que essa menina não nos reserva no futuro?!
Ela cresceu. Hoje vive - até demais - o que profetizara no passado. Vive o mais cru 'carpie diem'. Na idade auge dentre as idades auges que o ser humano perpassa. Ela nada perpassa, ela nada está; Ela é. E como é. Aliás, e como é! com ponto de exclamação mesmo. Mais apropriado. E eis que se chega em uma grande questão, daquelas que caem bem com reticências... o apropriado.
- Apropriado é o que manda o coração. - diz ela.
- Acho que não é bem por aí. - replica o rapaz.
- Tu acha demais.
- Tu que tem pouco medo de perder.
Ele era um cara mais comum. Do tipo que se entrete com coisas comuns, lugares assim e sem muito etcetera na vida. Tinha um carro. Com ponto final, nada de superlativo ou que mereça exclamar-se. Mas mais do que automóvel e jeito não peculiar, ele tinha culpa! Essa sim. Era sua íntima.Culpa se relaciona com perdão, com transgressão, com pensamento. Ela muda vidas.
- E tu? tem medo de perder ou de ganhar? - massacrou Camila.
Era uma pergunta profunda. Ele teria receio de deixar de lado um aconchego. Ou de abandonar o caminho aparentemente mais correto à salvação. O fato é que todos sonham com uma aventura. Mas como já bem disse o poeta: "sonho é uma coisa que eu guardo dentro do meu travesseiro". Talvez não no caso de Camila. Mas para ele, certamente. Atônito, não respondeu; silenciou um ponto e vírgula meio fora de sintaxe e foi-se embora.
Foi a última vez que se encontraram. Todas as outras vezes em que estavam num mesmo lugar se desencontravam e desconcertavam em meio a dois beijos contrangedores nas bochechas. Estava tudo tão na cara que ninguém percebia.
Ele deu sequência em uma vivência tão comum, enquanto ela deu vivência à inconsequência de si. É a vida real. Ele incessantemente guarda sonhos secretos acobertados numa ou noutra fronha. Ela acomodou-se a realizar o faz-de-conta. Ele vive o ponto final. Ela busca travessão e nova linha. O português é algo muito injusto, Camila.
- Nascemos para bilhar! Já ficamos muitos anos parados sem descobrir o mundo que nos espera, os amores e desamores, e, principalmente, sem nos descobrirmos!
Causou perplexidade nos pais presentes e total falta de entendimento de seus colegas que, tal como Camila, beiravam os 6 anos. Uma professora comentava:
- O que o futuro não reserva para essa intempestiva menina?!
Os pais corrigiam:
- O que essa menina não nos reserva no futuro?!
Ela cresceu. Hoje vive - até demais - o que profetizara no passado. Vive o mais cru 'carpie diem'. Na idade auge dentre as idades auges que o ser humano perpassa. Ela nada perpassa, ela nada está; Ela é. E como é. Aliás, e como é! com ponto de exclamação mesmo. Mais apropriado. E eis que se chega em uma grande questão, daquelas que caem bem com reticências... o apropriado.
- Apropriado é o que manda o coração. - diz ela.
- Acho que não é bem por aí. - replica o rapaz.
- Tu acha demais.
- Tu que tem pouco medo de perder.
Ele era um cara mais comum. Do tipo que se entrete com coisas comuns, lugares assim e sem muito etcetera na vida. Tinha um carro. Com ponto final, nada de superlativo ou que mereça exclamar-se. Mas mais do que automóvel e jeito não peculiar, ele tinha culpa! Essa sim. Era sua íntima.Culpa se relaciona com perdão, com transgressão, com pensamento. Ela muda vidas.
- E tu? tem medo de perder ou de ganhar? - massacrou Camila.
Era uma pergunta profunda. Ele teria receio de deixar de lado um aconchego. Ou de abandonar o caminho aparentemente mais correto à salvação. O fato é que todos sonham com uma aventura. Mas como já bem disse o poeta: "sonho é uma coisa que eu guardo dentro do meu travesseiro". Talvez não no caso de Camila. Mas para ele, certamente. Atônito, não respondeu; silenciou um ponto e vírgula meio fora de sintaxe e foi-se embora.
Foi a última vez que se encontraram. Todas as outras vezes em que estavam num mesmo lugar se desencontravam e desconcertavam em meio a dois beijos contrangedores nas bochechas. Estava tudo tão na cara que ninguém percebia.
Ele deu sequência em uma vivência tão comum, enquanto ela deu vivência à inconsequência de si. É a vida real. Ele incessantemente guarda sonhos secretos acobertados numa ou noutra fronha. Ela acomodou-se a realizar o faz-de-conta. Ele vive o ponto final. Ela busca travessão e nova linha. O português é algo muito injusto, Camila.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Ela
Superação é uma palavra que odeio nesse momento. O tempo todo ouço que o tempo é um sábio remédio e que algum dia riremos das lágrimas caídas ontem e hoje. Nada disso tem me convencido. Parece que nada mais me acalma, me aquieta, me pacifica.
Olhei para ela e não consegui disfarçar o desconcerto. Previsível, mas inevitável. "Salão de festas. Abraços.
-Como vai?
Papo furado. Sorrisos.
- Vai bem!
Sapatos dançando. Vestido. Olha só...
- Tá acompanhada
- Mentira
- Aham!
Meio da festa. Olhares. Ué! Senta do lado. Com gelo, melhor. Suor na testa. Pigarro e...
- Pois é..."
Não passa mais disso. Vontades não realizadas. Reciprocidade do querer afogada no platônico. Um saco! Uma mistura de culpa com medo da vergonha que vem junto da sinceridade. E quase todo meu viver se baseia nisso, atualmente.
Dias depois, em uma dessas conversas que mais massacram do que ajudam, ela perguntou:
- Tu realmente não tem mais nada a me dizer? É só isso?
Escrevi:
- Sim.. Tenho saudade!
Deixei o cursor piscando quase 10 minutos. Então apaguei e falei qualquer amenidade; o medo sempre vence. Assim seguimos incompletos. Essa é a verdade.
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